(Escrevi este artigo a pedido de um amigo meu, para um jornal de bairro)

PEQUENO MANUAL DE ORIENTAÇÃO AO IMIGRANTE DE CURITIBA

Caro recém-chegado, siga atentamente estas instruções. Em caso de emergência tome um Lexotan.

01- Está perdido ?
Oriente-se pelas placas (bilíngues, que chique) de sinalização - elas custaram o olho-da-cara aos contribuintes que mal falam português.
Os curitibanos tem muito orgulho de seu arrojado projeto viário e quando se deparam com um perdido procurando o Prado Velho, por exemplo, mandam o coitado pro Fazendinha - para que ele conheça (mesmo a contra-gosto) todos os rincões da cidade.
Só uma coisinha: desista de procurar nessse mapa que te deram na rodoferroviária onde fica o bairro Champagnat. Ele não existe, ok ?

02 - Onde ficar ?
Não se preocupe: Em cada quarteirão do Centro você encontra um hotel (vazio, obviamente). Em alguns casos, até três. Pechinche ao se hospedar, talvez algum hotel até pague para que você ficar.

03 - Onde comer ? E o quê ?
Numa mesa, de preferência. Você não vai comer de pé, vai ?
Ok, ok. Não deixe de conhecer Santa Felicidade e seus risotos, suas lazanhas, gnocchi, spaghetti e tutto mais. Mas esconda as balanças de sua mulher.
Não deixe de provar um delicioso cachorro-quente com duas vinas e um cúque. Eu adoro comer o cúque da minha vizinha. Com uma bela banana caturra, é claro.

04 - Como ir ?
De ônibus, claro. A cidade tem um sistema de transporte coletivo invejado pelo mundo todo - exceto nos horários de rush - quando com certeza você desejará estar num taxi com ar condicionado e sem ninguém a esmagar seu pé direito ou te espremer com sacolas. Nos dias frios, como os ônibus circulam com os vidros hermeticamente fechados, leve seu próprio clilindro de oxigênio.
E não se espante se nenhum marmanjo ceder seu lugar a idosos ou gestantes - há uma estranha e repentina espécie de autismo os impede de levantar nos ônibus lotados.

05 - O que fazer ?
Curitiba oferece diversos shoppings para você passear enquanto uns reparam nas roupas dos outros e diversas lojas populares para você comprar lembrancinhas para a sua sogra, sua tia e o cachorro do seu cunhado.
Nos mercados, não se incomode se por ventura alguém ficar olhando ostensivamente pro seu carrinho: o curitibano avalia que você é pelo o que você compra. (Quando faltar papel higiênico, recorra a um serviço de tele-entregas).

06 - Pontos Turísticos
A rua das Flores e sua famosa Boca Maldita. Onde toda a fauna urbana em sua bio-diversidade se manifesta: Desde os doidos que sem motivo aparente começam a berrar até o ciclista besuntado de sunga. Detalhe metodológico: Aqui ao caminhar ninguém desvia.
Se alguém vem em sua direção, a inércia fará que ele permaneça em rota de colisão, esperando que os demais desviem.
No Parque Barigüi você comprovará que toda Lei de Física pode ser contrariada, pois dois corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço aos domingos.
No Jardim Botânico você poderá sentir a maresia mesmo estando a milhas do litoral mais próximo.
Já nos bairros o máximo em diverão e entretenimento consiste em lavar o carro com aquelas caixas de som enormes pra fora do porta-malas, no último volume, enchendo o saco de toda vizinhança num raio de 5 Km com um tush-tush de torrar o saco.
Até às duas da madrugada.

Aproveitem este guia e boa estada em Curitiba.
(Eu faço algumas coisas que escrevi aqui)*

*Marcos Caiafa não nasceu em Curitiba, já morou num monte de lugar e não troca isso aqui por nada.

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