Diário de Guerrilha: 21/09/2003
Panorama contemporâneo da televisão brasileira: visite o lixão de sua cidade. Se não houver lixão, serve um aterro sanitário. Já centro de reciclagem, não serve. A televisão atualmente só vem produzindo lixo, não reciclando.
Estagiei na Rede Manchete em Brasília, no começo dos '80. A filosofia de trabalho era (obviamente) bater a audiência da Globo, se possivel, com a oferta de uma programação de qualidade (termo muito subjetivo). A tão propalada qualidade que a Manchete buscava, começou a consumir o orçamento destinado - sem o devido retorno (em anunciantes e audiência) esperado.
O seu Adolfo Bloch (diretor do Grupo Bloch, dono da Manchete) sugeriu, então, que se produzisse algo mais ao gosto brasileiro.
Daí vieram as Donas Beijas e seus banhos de cascata, os closes quase ginecológicos durante o desfile do carnaval, e etc.
Nada, absolutamente nada contra a nudez como forma de arte. O cinema europeu que o diga. A questão é que não era exatamente arte, o que se produzia. A Manchete faliu e vieram depois os Ratinhos, os Sérgios Mallandros, os Aqui Agora. Os Reallity Shows. As banheiras do Gugu e as Videocassetadas. O uso de nudez gratuita (já devidamente assimilada por nossa sociedade latina e tropical) não incrementa, por sí só, índices de Ibope. O que fazer, então ? Vamos exibir cadáveres ? Revelar emocionantes resultados de testes de DNA via satelite para todo o país, com direito a agressão generalizada entre as partes envolvidas ? Simular entrevistas com integrantes de facções criminosas ? O que mais virá ?
Aos esclarecidos, sempre haverá uma Tv Cultura, um canal Futura, uma RAI, uma BBC, uma Deutsche Welle, uma TvE. Aos que por absoluta falta de acesso a um esclarecimento, restará todo o lixo acima descrito. Afinal, são estes a base sólida da sociedade brasileira - e estes, por razões estratégicas, devem ser mantidos na mais perfeita alienação...

E já que estamos em pleno clima crítico: crie, não copie. Descobriu uma coisa bacana ? legal, absorva a idéia, mas não meramente reproduza. Se fosse assim, a Tyrrell teria ganho muitos campeonatos de Fórmula 1, o Paraguai seria uma potência continental e o plágio não seria crime. Valeu ?

O post de hoje é uma homenagem à uma menina criativa chamada Dani.

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