Diário de Guerrilha: 11/01/2003

A América é um país muito peculiar...

Em seu hino, há um verso, "the land of the brave and the free" (a terra dos bravos e livres). De fato, os yankees demonstram ser muito bravos, ao longo de sua história:
Ao invadir o oeste, e trucidar os Sioux, os Apaches, os Navajos (quase toda sua população indígena); na conquista do México; na Segunda Guerra Mundial (onde os bombardeios aéreos sobre a população civil arrasou cidades italianas, alemãs e japonesas, empregando armas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki); na Coréia, determinando um bloqueio econômico quase que total à Cuba socialista de Fidel; ensinando às ditaduras sul-americanas como reprimir as guerrilhas comunistas (leia-se emprego de tortura); no Vietnã, e toda a barbárie contra seu povo, com bombas de napalm, minas terrestres e a pior das violências - a psicológica. Estupros, torturas e humilhações. Mais recentemente, na Bósnia, no Iraque (por duas vezes) e no Afeganistão demonstraram sua avançada tecnologia bélica (alvos errados, excessos). Sem contar as evidências forjadas que levaram o Império de Bush hipocritamente à "libertar o Iraque da ditadura sanguinária de Sadam Hussein". Bullshit. (Ok, mas Sadam não é nenhum santo, sabemos disso). A base americana em Guantánamo, para onde são levados supostos terroristas sem julgamento militar, é um desrespeito aos direitos civis. Mas a ONU fica em New York, não é mesmo ? Hipocrisia é um termo muito brando para definir esta obcenidade.
Já vimos, portanto, que eles são bravos. Mais bravos que o pit-bull da minha vizinha (e talvez tão inteligentes quanto).

Pausa autocrítica:
Nada tenho contra o povo americano, não sou como esses idiotas de plantão, que generalizam e esteriotipam o modo de agir e pensar de um povo. Existem americanos e americanos. Uma Johnanette Napolitano
(vocalista dos Concrete Blonde) pensa bem diferente de um Collin Powell, por exemplo. Minha crítica é dirigida àqueles que (ainda que supostamente) governam os EUA. Ok ? Estamos entendidos ? Então tá, continua lendo, o post ainda não acabou.

Quanto às liberdades individuais, através dos tempos vemos:

A segregação social e política de sua população nativa (nunca houve um parlamentar que os representasse); escravidão de afro-descendentes (no entender dos pseudo-puritanos protestantes, "os negros não tem alma" - logo eles, que nos deram os blues, o rock, o samba); a consequente discriminação racial após a sua libertação, que veladamente, resiste até hoje, nos Harlens da vida; nos campos de prisioneiros nos quais foram confinados civis japoneses e nipo-descendentes após o ataque em Pearl Harbour (que culpam tinham; alguns eram até cidadãos americanos); o modo arrogante ao se referirem á América Latina (somos todos índios, há jacarés nas ruas, vivemos em tabas); toda a xenofobia que o Macartismo imprimiu durante a Guerra Fria (o Senador McCarthy era um paranóico e piegas pregador dos valores americanos, orientou a política interna e externa dos EUA nos anos 50); e, agora, temos a fraude chamada ALCA e tão propalada Globalização (por favor, Globalização não é ficar assistindo a Globo por horas a fio - mas é algo alienante também), idealizada pelo tio Sam para determinar sua hegemonia cultural no Ocidente (e no Oriente também, por quê não ?)

Estou escrevendo tudo isso por alguns motivos: morei nos EUA; e conheço sua cultura. Observo um claro sentimento de anti-americanismo no mundo após esta invasão ao Iraque fundamentada em mentiras e interesses econômicos, num flagrante desrespeito à ONU; pela orientação ideológica semi-fascista do governo Bush, imperialista e parcial; por esta guerra no Iraque ter vitimado um inocente chamado Roberto Vieira de Mello, um diplomata que priorizava a paz; pelo atentado ao quartel dos Carabinieri italianos em Nassyria - que iriam ajudar na segurança do país, e são muito queridos na Italia pela luta à mafia na campanha Mãos Limpas. 18 soldados inocentes mortos, tão inocentes como os civis iraquianos que tiveram sua nação invadida de forma arbitrária.

A América imprime sua cultura através da música, do cinema, nas artes. Nos costumes, nas roupas, no nosso consumismo quase inconsciente. Você nunca comeu um Big Mac na praça de alimentação do shopping em sua cidade ? Nunca sonhou em conhecer o Mickey na Disneylândia ? Nunca riu com o Zé Colméia, Patolino ou Pica-pau ? Não se emocionou ao ver o Armstrong descer do Eagle, pisar com o pé esquerdo (dá azar ?) a superfíce da Lua ?
A América ajudou a Europa Ocidental a se libertar do terror do nazismo, mas, paradoxalmente e aos poucos está se convertendo num imenso Reich.

E todos nós sabemos como o Reich acabou.

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