Diário de Guerrilha: 22/02/2004. Faltam 48 horas para acabar essa alucinação coletiva...

O País do Carnaval

Somos uma nação tão insuportável a ponto de necessitar de 4 dias para exorcizarmos nosso stress, nossas frustrações e tristezas ? Essa "euforia de hora marcada", tão artificial quanto um comprimido de ecstasy, acaba em metafóricas Cinzas - como algo que devesse ser eternamente incinerado - e inevitáveis "efeitos colaterais", que vão da indefectível ressaca às doenças venéreas e gravidez...

É no mínimo paradoxal ver tantas comunidades carentes de infra-estrutura urbana, (sobre)vivendo em barracos, em favelas dominadas pelo tráfico e pela contravenção, sustentarem as chamadas "escolas de samba" (escolas de samba ?) com seus salários miseráveis. Sacrificam seus orçamentos em nome de uma hora e meia de folia. Se vivo, Marx poderia dizer que o ópio do povo (brasileiro) é o carnaval...

Preferia ver essas comunidades financiando seu próprio desenvolvimento; ver escolas sendo erguidas, ruas sendo pavimentadas, barracos virarem casas. Assistir na avenida um desfile ostentando tanto luxo e riqueza, enquanto seus integrantes voltam depois para casa em ônibus, sem ter muito o que comer, me parece mais uma piada. De péssimo gosto.

O outro lado da mesma moeda: a burguesada cheirando lança-perfume, cheirando cocaína, tomando energético com whisky 12 anos, ávida em desafogar sua bem-nutrida paranóia delirante numa noite de sexo. Com a primeira gostosa que aparecer (mesmo que a gostosa, ás vezes, seja homem. Mas isso não vem ao caso). Bailes com direito à muita sacanagem, muito peito e bunda de fora. Gente entorpecida se arrastando, em vaga consciência. O comer alguém, aqui, é a prioridade.

Nas ruas, gente bêbada dirigindo, enquanto outros aproveitam o torpe reinado de Momo para praticar crimes (Sabe, Dotô, eu tava fora de si, de cara cheia). Nas TVs, o erotismo em qualquer horário, ao alcance de todos. Crianças fantasiadas de Feiticeira, Tiazinha e outros personagens insinuantes. E ainda não queremos ser referência de turismo sexual ?

A quem aprecie tudo o que foi acima citado, respeito a preferência (embora não necessariamente concorde). Mas procure descobrir a razão de buscar essa fuga, dessa inconsciência (coletiva).

Eu prefiro permanecer sóbrio. E crítico.

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