Diário de Guerrilha: 08/11/2003. Chuva incessante; meio frio. Poderia canalizar minha ira pós-punk e exteriorizar minha revolta pelo Apagão de três dias que a inépcia onipresente nesta Ilha me proporcionou (a mais perfeita definição do caos); mas prefiro dedicar-me à minha (vã) filosofia... Perdón, Josie... Hablaré de lo apagón después...

O que é o amor, afinal ?

Uma semi-paranóica, diuturna e múltipla preocupação de alguém para outra pessoa (se já voltou pra casa, se está bem ou com febre) ?
Amor de pai, mãe. Avó. Amor de sangue. Amor que mima, amor que repreende. Amor desses que a gente só sente a devida falta depois que cresce...

O relacionamento entre um homem e uma mulher que moram juntos há um bom tempo, transam meio que por obrigação (o desejo, como a Apollo 13, já foi pro espaço, e faz tempo), pouco conversam (sobre o quê ?) - enfim, se acostumaram a viver juntos, mas provavelmente divaguem sobre como seria a vida se separassem, mas não o fazem; uma separação custa muitos honorários advocatícios, e toda aquela encheção de dividir os bens (deixa assim...) não dá pra chamar de amor.

O tesão do garotão pela gatinha, baseado em chupões quase intermináveis, amassos e trepadinhas, é amor ? Paixão adolescente, desejos quase incontroláveis. Chega-se a deixar de fazer refeições, passa-se muitas horas no banheiro (para se produzir e para outras coisas). Quem nunca sentiu tais sintomas ?

O cara que acorda atordoado por ter sonhado com sua colega de trabalho, e se descobre apaixonado (embora antes nunca tenham conversado muito)...

A senhora que mora (sozinha) e conversa com seu estridente poodle branco como se fosse seu filho, o beija, compra brinquedinhos. Isso é um tipo de amor. O amor que ela trocaria por um filho de verdade, talvez. Mas o poodle é sincero ao demonstração sua afeição, e chegue até a morrer pela dona. Raros seres humanos fazem isso.

Amor pela Internet. Declarações de amor em incontáveis toques por minuto. Amor impessoal, tecnológico. Sem as mensagens subliminares que só o olhar transmite. Sem o cheiro de quem se ama. Sem boca, sem pele. Mas é amor (idealizado, às vezes; mentiroso, outras tantas). Amor em bytes. Bite me, girl, bite me...

Amor bandido, paixões perigosas: Aquelas que se realizam em encontros longe do olhar alheio, em segredo. Amantes, cúmplices. Válvulas de escape, oásis, psicólogos de plantão. O Outro ou a Outra; o relacionamento restrito às coisas boas: sexo, aventura e presentes. Mas nenhum dos seus amigos pode saber, e ela fica sozinha e com cara de tacho no Reveillòn (será ?). E, de vez em quando, mesmo sem querer, ao olhar ou ouvir algo, ele se lembra da esposa e dos filhos. O clima meio que broxa, a "culpa" se torna evidente. Amor meio hipócrita. Sem futuro e de passado reduzido, vive do presente. Só do presente.

Relacionamentos e relacionamentos: a vizinha fogosa que bate na porta, troca duas ou três palavras, e pronto: sexo. Lá pelas três da manhã você diz que "está tarde" e a despacha (não intencionalmente, é claro) pra casa dela. Desde que isto vem acontecendo voce não precisa se masturbar mais; a vizinha virou um "receptáculo de esperma": apenas um objeto. Isso não é amor, é sexo. E às vezes, sexo "por obrigação".

Amor platônico, uma implacável timidez: Noites sem dormir, quase uma obsessão. Amor ou sofrimento ?

Amor pelo trabalho, por uma causa (chega-se a morrer por uma), por uma nação. Por uma crença. Amores ideológicos.

Amores que vivem na memória, em flashes, eternizados em frames de celulóide, em VHS, em MPEG, vistos e revistos milhares de vezes. Pelos mais diversos motivos.

Amor, tesão, desejo, afeto, carinho, toque, olhar, beijo, cheiro, pele, cumplicidade, gozo, ternura, proteção, aconchego...
É um fogo que arde sem ver, é ferida que dói e não se sente, é eterno (enquanto dure), é um grande laço, um passo pra uma armadilha, um lobo correndo em círculo pra alimentar a matilha, is all we need...

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