Diário de Guerrilha: 04/04/2005. A chuva que caiu ontem na mais polonesa cidade brasileira foi um pranto metafórico ?

Réquiem a Joannes Paulus II (Futuro São João Paulo II)

Vasco X Fluminense, Maracanã lotado, década de 80. Falta a ser cobrada pelo tricolor.
Nos angustiantes momentos que antecedem a cobrança, a torcida do Fluminense começa a entoar um refrão cantado por toda a nação, há pouco tempo atrás: "A bençâo, João de Deus... A benção, João de Deus..."
Não posso afirmar se houve qualquer intervenção divina a favor dos tricolores (apesar do Vasco usar a Cruz da Ordem de Cristo em seu uniforme), mas o Fluminense venceu...

Esse João de Deus (que foi goleiro e torcedor do Cracowia) cantado no templo pagão do futebol foi um dos maiores persongens da história contemporânea.
Orfão de mãe ainda criança, viu sua Polônia ser arrasada e ocupada pelo horror nazista, foi prisioneiro em um campo de trabalhos forçados. Perde o pai. Decide abraçar o sacerdócio - mas todos os seminários foram fechados pelos invasores alemães... É acolhido de forma clandestina pelos religiosos sobreviventes, onde ao final da guerra é ordenado padre.
Com a libertação da Polônia pelo Exército Vermelho, vê-se diante de um paradoxo sarcástico e cruel: os soviéticos não vieram exatamente libertar a Polônia - e começa um novo ciclo de provações aos poloneses. O país é transformado num satélite soviético (comunista e ateu), e as liberdades individuais são quase extintas.
Torna-se Cardeal. E numa ousadia de destino, Papa.
Nos anos 80, o auge da Guerra Fria. João Paulo II visita a Polônia em pleno estado de sítio. O Solidarność, de Lech Walesa, torna-se o ícone das aspirações de liberdade. Apesar das ameaças de ocupação, a URSS não repete a "Primavera de Praga".

Aos poucos, João Paulo II conseguirá realizar tudo o que complexo militar americano fracassou: Desmantelar a União Soviética, desembarcar em Cuba e fazer de Arafat um aliado. Sem armas, aliás, com a melhor delas: com palavras.
Tamanha ousadia custou-lhe um atentado encomendado pela KGB, que quase lhe tira a vida.

Este Papa, esportista, poliglota, estadista, tinha seus defeitos - acusado de retrógrado, pois muitos esperavam uma postura mais progressista da Igreja - mas soube superar seus críticos visitando diversas nações no mundo, já doente, num ato de superação e sacrifício; promover boas relações com outras religiões (judeus, ortodoxos e islâmicos); condenar as guerras e finalmente ser aclamado como o maior dos Papas pelos católicos.

No Brasil, em sua primeira visita, testemunhou a miséria do povo e a opressão do regime militar.
Em sua segunda visita, nosso país retomava (embora que por vias tortas, com Collor) o caminho democrático...

O Bosque que leva seu nome em Curitiba, além de representar a imigração polonesa no Paraná, foi palco de uma série de aparições de Nossa Senhora na década de 80. Com a revelação o terceiro segredo de Fátima, tais aparições sugerem hoje todo o tipo de especulação.

De João Paulo II, que ví passar ligeiro no Eixão de Brasília a bordo de seu indefectível papamóvel ainda garoto, guardo o exemplo de um grande homem, que mudou o mundo. Para sempre.

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