Diário de Guerrilha: 30/06/2004. Após um quase-obsceno vácuo literário de três meses, volto à este blog. Por puro stress e falta absoluta de tempo, abandonei esta tribuna... (mas se eu sumir de novo, não se espantem).

O Cavalinho Branco nr. 145. (Ou: Cinema, vícios e convicções políticas).

O "filme da minha vida" é "Um Homem e Uma Mulher", do Lelouch. Já escreví isso alguns posts atrás. Meu pai tinha o LP com a trilha sonora, cuja capa contém carros de competição - e eu já era fanático por automobilismo. Se o futebol nunca me seduziu totalmente, a F-1 foi paixão à primeira vista. Infelizmente, o automobilismo é um esporte meio caro, e eu nunca pude contar com um bom patrocínio (ou PAItrocínio), embora tenha disputado algumas provas como piloto de rally, na condição de amador.

Mais grandinho, e namorando uma francesa, assistí a esse filme quase sem querer, num Corujão qualquer.

Parei. Olhei. Pirei.

É poesia pura.

A homenagem à cultura brasileira, num "clip" com o "Samba-Saravá" do Vinícius cantado em francês (?!);
as cenas em sépia, branco e preto;
o garotinho que interpreta o filho do protagonista (e minha mãe jura que sou eu);
a inesquecível cena na pista oval de Montlhéry, onde um monoposto Ford, um GT-40 e um Mustang fazem tomadas de tempo...
a trilha sonora, obra-prima de Francis Lai...
a sequência no Rally de Monte Carlo (já me barbeei enquanto dirigia);
a cena da praia...
o final aberto...

Poizé...

Por tudo isso e pelos prêmios que conquistou, A Palma de Ouro de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, eu amo esse filme - que teve uma sequência, não tão feliz, "20 Ans Déjà" (Vinte Anos Depois).
Trintignant, o protagonista, foi realmente piloto de provas (disputou alguns rallies na Europa). Anouk Aimeé, a linda atriz francesa, além do charme, consegue manter seu ar blasé durante todo o filme.

A Ford francesa inaugurou, sem querer, o merchandising nos filmes de arte, ao patrocinar esta produção - o que se conta nos bastidores é que o produtor não dispunha de um orçamento elevado... e algumas cenas tiveram de ser rodadas em sépia ou branco e preto (os negativos Eastmancolor era muito caro). Mais uma lenda sobre este filme: alguns diálogos foram mero improviso - sobretudo na cena do restaurante em Deauville.

E meu sonho de consumo é um dia ter um Mustang Coupé Branco 1966. Também sou filho de Deus, e apesar de minhas antigas convicções políticas, ex-comunistas também têm sonhos de consumo (e hábitos capitalistas, como fumar. Eu fumava vorazmente os reforçados Gitanes - os mesmos que Trintignant fumava - o que é a propaganda...)
Ainda bem que Marx já morreu e o Muro, caiu.
E eu, que não sou trouxa, deixei de fumar. Há dez anos...
(Mas gostar do Mustang, esse vício, não consigo largar).

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