Diário de Guerrilha: 22/11/2004. Pronto: Este blog passa a ter uma edição bimestral...
Dedico este post ao Rodrigo (do site paixão pelo copersucar), à turma da Dana (obrigado pelo material) e à todas as "viúvas".

Minha bicicleta era amarela...

No quadro desta bicicleta, havia a figura de um pássaro, com asas multicoloridas (que recortava de uma 4 Rodas qualquer).
O número, este era mudado, a cada ano: 30, 28, 14... com durex.
O emblema na frente do guidom, era de plástico. Recorte de uma embalagem de álcool.

Quem tem mais de 30 anos, sabe o que estou falando (na verdade, escrevendo).

Antes de Senna se tornar nosso herói e mártir nas pistas, antes de Piquet ganhar seus três títulos mundiais e antes de toda essa moçada que a cada ano é rotulada de "nossa nova esperança na Fórmula 1", havia um piloto cujo sobrenome virou sinônimo de velocidade. Ele dominou o automobilismo nacional, projetando-se na antiga "Fórmula V", e foi tentar a sorte na Europa. Sem saber, este paulista, honrando suas origens, estava na verdade sendo um bandeirante. Abrindo as portas (e os corações) de nosso país ao automobilismo. Fórmula Ford, Fórmula 2. Fórmula 1. Lotus. O famoso e lindo modelo 72, primeiro carro "moderno" da F1, o primeiro a usar as cores de patrocinador (Gold Leaf).
A primeira vitória - GP dos EUA, 1970. Depois, um ano amargando os reveses de um projeto revolucionário mas mal-concebido: o Lotus-Turbina. Em 72, a glória: ao volante da Lotus negra e dourada (talvez o mais belo de todos os carros de competição), o primeiro título mundial.
Vice em 73. Campeão novamente em 74, desta vez pela McLaren - provando que não dependia de Collin Chapman nem da Lotus. Em 75, deixa a McLaren para dedicar-se a um sonho.
Este sonho se chamava Copersucar-Fittipaldi. O primeiro F1 brasileiro.
Este piloto é Emerson Fittipaldi. Um brasileiro.

O projeto de uma equipe de F1 nacional nasceu de uma conversa com seu irmão Wilson, e em 74 o primeiro modelo estava concluído: o FD-01. Inovador, todo carenado - um perfil de penetração aerodinâmica muito baixo. Algumas das soluções do FD-01 foram copiadas por várias equipes, mas o carro não era competitivo.
O FD-02 e o FD-03 foram pilotados por Wilsinho até 75, quando Emerson assume o cockpit. O FD-04, outro projeto de linhas elegantes, mostrou evolução sob a pilotagem de Emerson - mas o país criticava a ousadia dos Fittipaldi em disputar com um carro brasileiro a mais importante categoria do automobilismo mundial.
As críticas vão aos poucos tornando-se piadas. Apesar dos bons resultados em 76 e 77, não consegue atrair a torcida (nem parte da imprensa da época). O que pouca gente sabe é que parte deste insucesso nas pistas devia-se à "mafia inglesa". Os motores na época (exceto a Ferrari, a Ligier, BRM e Renault) eram fornecidos pela Cosworth (subsidiária da Ford inglesa) - que, num ato de "patriotismo", fornecia os melhores motores às escuderias inglesas (será que era $ó patrioti$mo ? acho que não).
Em 78, o melhor momento: segundo lugar no Gp Brasil. Os descrentes, para não serem discriminados, começar a elogiar a Copersucar-Fittipaldi. Nesta temporada, a equipe deixou para trás McLaren, Willians, Renault... mas o Brasil queria mais. Em 79, a vez do F6. Outro carro lindo, revolucionário. Mas problemático e e caro no projeto, fez o patrirocinador desistir da equipe. Os Fittipaldi não desanimam e compram a Wolf (uma equipe que também desafiou as grandes) e passaram a contar com o apoio (financeiramente menor) da Skol brasileira. Keke Rosberg, que seria campeão em 82, era o segundo piloto da equipe. Mais alguns bons resultados, mas em 81 Emerson deixa o volante e torna-se chefe de equipe. Mesmo com Chico Serra (talentoso e arrojado), a equipe entra em decadência, até encerrar suas atividades, em 1982.

Sou uma das "viúvas" da Fittipaldi. E não sou "a única". Meu amigo (pela internet) Rodrigo criou um site para eternizar o sonho dos Fittipaldi (no qual humildemente estou citado como "colaborador") - sonho este revivido na iniciativa de uma fabricante de peças (não precisa ser médium pra saber que é a Dana) que restaurou não só o FD-01, mas parte da história do automobilismo brasileiro.

A minha bicicleta era amarela por causa do Copersucar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário